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Kwanzaa dia 3 - Ujima e o poder do Trabalho Coletivo

Kwanzaa dia 3 – Ujima e o poder do Trabalho Coletivo

Kwanzaa dia 3 – Ujima e o poder do Trabalho Coletivo – texto por Rebecca Aletheia

Nos últimos dois dias de celebração da Kwanzaa, refletimos sobre Umoja (unidade) e Kujichagulia (autodeterminação). Hoje, no terceiro dia, o princípio que nos guia é Ujima, que destaca a importância do trabalho coletivo e da responsabilidade compartilhada.

O Coletivo: Uma Força Essencial

Quando voltei ao Brasil, uma das frases mais comuns que ouvi em comunidades negras foi: “Somos um coletivo”. Mas será que realmente entendemos o que significa ser parte de um coletivo? Pessoas naturalmente buscam espaços onde se sintam acolhidas, como grupos religiosos, de yoga, ou de leitura. Não é por acaso que a Bitonga Travel é um coletivo.

Estar em um coletivo é simples; ser parte dele, de forma genuína, é o verdadeiro desafio. Um coletivo não é apenas um grupo de pessoas; é a soma das contribuições de todos. O coletivo só existe porque cada indivíduo decide ser ativo dentro dele.

A Responsabilidade Individual no Coletivo

Lembro de uma experiência marcante que relato no meu livro – EscreVIVER, Cartas de uma viajante negra ao redor do mundo, em um capítulo chamado Na Casa da Mamá. Durante uma estadia na casa de uma família africana em Moçambique, observei uma dinâmica familiar que me intrigava: todos os filhos entendiam e executavam suas tarefas naturalmente, sem que ninguém precisasse pedir. Aquilo parecia impossível para mim na época, mas hoje entendo a essência dessa prática por meio das palavras da minha avó: “Quem quer ajudar não pergunta, faz!”

Quantas vezes, em uma reunião de família e nesse caso uma tradicional família preta, alguém chega e pergunta: “O que eu posso fazer?” Minha avó diria que quem pergunta não tem intenção real de ajudar, e provavelmente ouvirá um: “Não precisa fazer nada”. No entanto, essa pessoa certamente será assunto de conversa depois, justamente porque o verdadeiro trabalho coletivo nasce da iniciativa, da ação sem necessidade de convite.

Nem Todo Espaço É Para Todos – E Está Tudo Bem

Faz parte do trabalho coletivo compreender que nem todos os espaços cabem a todos. E isso não é um problema. Está tudo bem não poder ou não precisar fazer parte de determinados grupos. Você não precisa se moldar para caber em um espaço que não te representa ou onde sua presença não faz sentido.

Lembro-me de uma situação específica: fui convidada das convidadas para uma festa exclusiva para mulheres lésbicas e bissexuais. Agradeci o convite, mas entendi que aquele espaço não era para mim, pois eu não fazia parte do grupo. E estava tudo bem! Muitas vezes, queremos estar em determinados ambientes apenas para “pertencer”, mas é importante reconhecer que esses espaços têm seu propósito, e respeitar isso é um ato de responsabilidade.

O Poder dos Coletivos
Coletivos existem para resolver problemas juntos, para ser um espaço de troca, apoio e pertencimento. No entanto, para que isso funcione, é essencial refletir:
•Quais coletivos eu faço parte?
•O que eu tenho contribuído para eles?
•Estou presente apenas como mais um número ou realmente faço diferença?
•Sinto prazer em estar nesse coletivo?
Indivíduos não prosperam quando apenas um lado entrega. É necessário equilíbrio, reciprocidade e iniciativa. Afinal, o mundo é feito de trocas, e essas trocas não precisam ser mensuradas. Quem faz por prazer, faz sem esperar algo em troca.

O Exercício do Dia

Hoje, eu te convido a duas ações:
1.Identifique seus coletivos: Reflita sobre os grupos que te acolhem. Podem ser clubes de leitura, grupos de corrida, iniciativas comunitárias ou até mesmo a família.
2.Pergunte-se o que você está trazendo para eles: Será que você é uma presença ativa, que contribui para o crescimento do grupo, ou está apenas recebendo sem se envolver?
Se você ainda não faz parte de um coletivo, esse é o momento perfeito para buscar um. Permita-se descobrir espaços que combinem com seus interesses e valores. Movimente-se e encontre pessoas que compartilhem de seus propósitos. Mas lembre-se: nem todos os espaços precisam ser seus, e reconhecer isso também faz parte do aprendizado coletivo.

Trabalho Coletivo: Somos Melhores Juntos

Podemos ser excelentes sozinhos, mas nunca alcançaremos nosso potencial máximo se não estivermos em um coletivo. O trabalho coletivo nos torna mais fortes, mais resilientes e mais capazes de transformar nossos sonhos em realidade.

Agora, reflita: o que o trabalho coletivo significa para você? O que você pode oferecer e receber de seus coletivos? E, mais importante, como Ujima pode transformar sua vida e comunidade?

Sendo assim, desejo que o princípio de Ujima nos inspire a fortalecer nossas conexões e a construir um futuro coletivo, com responsabilidade e propósito compartilhados.

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